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Porque alguns estudiosos criticam tanto a influência de Paulo Freire na educação?

Atualizado: 5 de set. de 2019

Conforme: Valnei Francisco de França, estudou Ciências sociais & História em Universidade Federal do Paraná (1990).

Paulo Freire é um importante pedagogo para o Mundo. Desde as discussões das Reformas de Base, no final dos anos 50, até hoje, o pensamento de Paulo Freire é produtivo. Quem deixa ao lado os ranços ideológicos criados durante o período ditatorial pode visualizar a grandeza deste professor. Quando lhe perguntaram “se o computador seria importante para a Escola”, ele respondeu “importante para quem”, “quem seria o principal beneficiário deste equipamento”. Ora, ainda hoje esta relação computador x escola causa discussões, não se chegou a um denominador comum. O que ele não pode é apenas ser um produto a mais para se enfiar na escola e satisfazer a necessidade de um mercado emergente. Produzir computador precisa ter um comprador. Há a necessidade de criar a necessidade de ter um computador. A coisa no Brasil é tão confusa que o famoso videocassete teve o mesmo tratamento. Muita produção e a necessidade de compra do produto. Alguns diziam que o videocassete estava vinda para substituir o professor, outros, depois diziam que o computador estava vinda para substituir o professor. Ou seja, a questão pedagógica em sala de aula ainda não está clara. É aí que é direcionada a resposta de Paulo Freire, “o computador servirá para quem”? É o professor, que para dar uma aula boa precisa de um computador? Parece simples, mas é só circular pelos salas dos professores que acabamos ouvindo o retorno desta questão, é um eterno Hamlet “ser ou não ser, esta é a questão”.

Quem não gosta do Paulo Freire, provavelmente, se sente ofendido quando ele diz que “o oprimido introjetou o opressor em si”, por isso que ele tende a pensar como dominador e é apenas um dominado e reprodutor desta dominação. Ele pensou em transformar a base social e isto deu medo, a incorporação de milhões de analfabetos no sistema eleitora determinaria uma mudança radical nas relações de poder.

Pense, quem (qual professor) na década de 60 se considerava igual ao aluno em importância??? Neste período eu fui alfabetizado pelo método da “palmatória” numa classe multisseriada.

Paulo Freira paga o ônus de pensar uma alternativa para a sociedade brasileira. Ele nunca foi comunista, assim como o Papa. São seres humanos que acreditam que os seres humanos podem se relacionar como seres humanos.

Sugestão de leituras sobre educação

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ou a disssertação


Para Diego Chaves, Analista de Sistemas e Desenvolvedor Java

Sim, na minha opinião o Paulo Freire não só foi como ainda é importante para nosso sistema de educação, principalmente aqui na cidade de São Paulo onde ele foi secretário e ajudou a botar ordem na bagunça, criando um plano de carreira docente, o que por si só permite que até hoje muitos bons profissionais sejam atraídos até mesmo de escolas particulares.

Muitos dos escritos dele sobre valorização docente e a importância da escola pública são ainda referência e também algumas das pesquisas conduzidas ou orientadas por ele sobre tais temas enquanto foi professor da PUC-SP nos anos 1980 ainda hoje circulam nos cursos de pedagogia.

Também as reflexões e metodologias sobre alfabetização de adultos ainda hoje são a base das disciplinas de EJA, bem como reflexões de vários cursos de alfabetização e didática por aí.

Então, das contribuições de Paulo Freire à educação brasileira que são válidas até hoje devo destacar:

Diferença entre autoridade e autoritarismo :

Professor é uma autoridade legítima quando sabe do que está falando e também como falar com o estudante, caso contrário ele não terá moral para praticar a profissão e os estudantes ao perceberem isso não irão legitimá-lo como autoridade, levando o sujeito a lançar mão de castigos e punições para ser respeitado, ou seja, agindo autoritariamente.

O professor é um profissional

Uma parte das pessoas acreditam que professor deve dar aulas por amor e se conformar com os baixos salários, para Freire o professor deve ser profissionalizado. Tanto quanto outro profissional com curso superior, o professor é alguém que tem um esforço muito grande pra se formar, então um salário tão inferior ao de outras profissões afasta as pessoas mais capazes da carreira docente. Da mesma maneira, o professor precisa tomar consciência do seu valor, para não baixar a cabeça para condições degradantes que não permitam ele realizar sua função de maneira adequada.

O professor está em constante formação

Diferente de outros que acreditam que o professor já está formado a sair de um curso, Freire ajudou a difundir a ideia de que o conhecimento do professor está em constante transformação, tanto pela dialética que ocorre no contato com os estudantes, quanto pelos avanços do conhecimento científico, portanto o professor precisa ter a mente aberta para se manter atualizado.

Educar é um diálogo

Paulo Freire era muito crítico às cartilhas, aos métodos apostilados e até mesmo ao uso de slogans, que ele denunciava como formas de doutrinação, uma educação bancária que tenta depositar um conhecimento já pronto na cabeça das pessoas. Para ele cada pessoa possui um conhecimento de mundo baseado em suas próprias vivências no mundo, então não adianta o professor fazer como a educação tradicional faz, de classificar o saber diferente como burrice, pois ao fazer isso o professor se enxerga com superioridade e então não se abre para entender como o conhecimento será aprendido pelo estudante, visto que ao invés de dialogar, ele irá impor. Freire, por sua filiação ao construtivismo, ajudou então a antecipar na educação brasileira algo que é estudado até hoje, mais importante do que criar um método de ensino universal, é focar na maneira que cada grupo aprende, realizando sondagens e estudos sociológicos sobre cada comunidade antes de iniciar o trabalho e depois dialogando com os estudantes de modo a superar as dificuldades que surjam.

De resto as críticas que já li sobre ele se dividem em várias posições:

1.) Filósofos de orientação nietzschiana : Nietzsche era crítico à Hegel e como a dialética do senhor e do escravo é praticamente a base da “Pedagogia do Oprimido” (a primeira obra importante de Freire) alguns filósofos que se debruçam sobre o campo da educação atualizaram tal crítica também à obra de Freire, então, Freire é criticado basicamente por difundir um posicionamento moral de que existe um certo e um errado, visto que para uma filosofia nietzschiana uma autoridade que se arrogue o direito de decidir o que é certo não merece credibilidade.

2.) Pensadores tradicionalistas que resgatam uma discussão lá dos anos 20 de que educação é diferente de instrução. Para eles instrução é coisa da escola, já a educação se dá na família e na igreja. Neste caso a crítica à Paulo Freire é por sua defesa radical da escola pública como um lugar em que as pessoas são educadas em uma ética que respeite os valores democráticos.

3.) Anti-comunistas. Neste caso não se tratam necessariamente de estudiosos, mas sim de pessoas que rechaçam o que Paulo Freire escreveu algumas vezes mesmo sem terem lido. Entre os que leram as discordâncias variam sobre a perspectiva que ele trás acerca da luta de classes, mas também a outros pontos de sua obra que são interpretados como contrários à autoridade do professor, etc.

4.) Comunistas. É possível encontrar textos mais antigos críticos à falta de comunismo de Paulo Freire. Naquela época havia uma divisão entre o jovem Marx, de orientação hegeliana, e o Marx mais velho que idealizou junto com Engels o comunismo. Paulo Freire era um cristão que inicialmente adotou em seus estudos uma perspectiva dialética encontrada neste jovem Marx mais humanista, porém hoje em dia ninguém divide mais o campo de estudo marxiano deste jeito, então esta crítica ficou pra trás.

5.) Críticos ao construtivismo : Hoje em dia o construtivismo está em baixa e como Freire adotou o construtivismo como uma forma de entender a maneira que as pessoas aprendem, várias críticas ao construtivismo realizada em outros contextos são estendidas a argumentos presentes na obra de Freire, uma das críticas mais recorrentes no entanto tratam tanto o construtivismo quanto teorias de Freire como simples “métodos”, como se ele tivesse escrito uma cartilha que com o tempo ficou ultrapassada, argumento que é rebatido facilmente.


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